UNDER THE SKIN de Nádia Duvall*
 

*Conferência no âmbito da Disciplina de Literatura e Artes Visuais

Nádia Duvall, luso-argelina nascida em 1986, concluiu a licenciatura em Artes Plásticas -Pintura, na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Caldas da Rainha, em 2008, ano em que foi distinguida com o Prémio de Pintura BANIF - REVELAÇÃO. Artista residente da Bienal do Porto Santo, conta, no seu percurso, com diversas exposições individuais e colectivas, a nível nacional - nomeadamente no Convento de Cristo, em Tomar, e no Panteão Nacional - e internacional (Alemanha, Itália e Lituânia). Em 2010, no âmbito do PROJECTO SKIN, baseado numa inovadora técnica de expressão plástica, recebeu o Prémio-Bolsa  “Experimentação Arte e Ciência”, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), apadrinhado pelo projeto Ciência Viva e pelo Ministério da Cultura. O Mestrado em Literatura, “Criações Literárias Contemporâneas”, na Universidade de Évora, faz parte dos diversos projectos que actualmente considera desenvolver. A sua obra integra o acervo de coleccionadores privados e públicos, nomeadamente do BANIF, Câmara Municipal de Porto Santo, Fundação Benetton e CAC Málaga.

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RESUMO

Através da manipulação de peles de tinta, dentro de piscinas a que cautelosamente se dá o nome de Útero, cria-se não só um processo plástico inovador como se desenvolve um conceito muito íntimo de cada um de nós: a Pele. Nesta conferência apresentar-se-ão os métodos resultantes da infindável e exaustiva pesquisa da artista. Referir-se-á as várias influências das artes plásticas e da literatura nas obras criadas. Serão abordadas obras literárias como "The Silence of the Lambs" de Thomas Harris, "Franskenstein" de Mary Shelley e "Metamorfose" de Franz Kafka. Estas obras terão este destaque, pois os seus conteúdos têm imensas similaridades conceptuais com a obra de Nádia Duvall. Apesar de serem obras literárias de ficção, estas criações literárias fazem-nos questionar, muito especialmente, a ficção na nossa vida e as suas ténues fronteiras. Para mais fácil compreensão e discussão durante a apresentação, serão projectadas fotografias, assim como um vídeo em loop da performance BLACK DRESS, no qual o processo plástico e alquímico será facilmente perceptível.

 

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LUZ DA NOITE a criação de NÁDIA DUVALL

Maria João Fernandes    

“A arte é um sonho sonhado pelo artista”

Anton Ehrenzweig

 

“Num lugar onde a sombra é gémea do fogo irrevelado”

Herberto Helder

Raras vezes neste longo périplo me deparei com a surpresa, a originalidade, a força criativa e a autenticidade pulsional do percurso da jovem Nádia Duvall. A algumas das suas referências: Yves Klein (a implicação do corpo, Rothko (misticismo e espiritualidade), Pollock (gestualidade e pulsão) e Helena Almeida (a componente mental, conceptual) eu acrescento as que de imediato me ocorreram: Tàpies, Frida Khalo. Tàpies inventou em meados dos anos 50, a escrita sobre o muro e uma nova visão da matéria e dos objectos do quotidiano. Nádia Duvall cria agora uma escrita sobre a água e nascida da água e uma matéria plástica para expressar e fixar os seus gestos, pois aquela que herdou de séculos de tradição a Ocidente não a satisfaz, não corresponde à sua necessidade de achar um equivalente dos seus subterrâneos impulsos e luminosas gestações. Nenhuma tinta saída do tubo, nenhum lápis fabricado lhe serve ou basta, simplesmente porque aquilo que persegue, as suas obsessões mais antigas sem equivalente no mundo visível e sensível aguardam para vir à tona da consciência, a conjunção alquímica do espírito, o seu, o do mundo e o de uma matéria que ainda não existe. Que vai depender de uma celebração e de uma gestação envolvendo a luz, o espaço, as sombras, o seu corpo, uma pele de tinta que ela própria foi produzindo ao longo dos anos, a magia das cores, os seus véus, o seu mistério. E a água, mater e magister de uma “obra ao negro”, de uma alquimia com diversas fases, da qual adivinhamos a calcinação, a destruição das diferenças, uma negritude que é a da noite da alma e a da noite do mundo, a solução na água purificadora e uma nova solidificação (rubedo), fase da transformação da matéria, trazendo consigo a união dos opostos, “a  coexistência pacífica dos contrários” e enfim aquela que se anuncia, em marcha ocultamente, da sublimação, “que corresponde ao ouro, cor do sol, plenitude do ser, calor e luz.” 

Organização: Maria Antónia Lima / Departamento de Linguística e Literatura | Escola de Ciências Sociais
Em 27.04.2015
10:00 | Sala 124 | Colégio do Espírito Santo
Fonte: GabCom | UÉ